Três anos passados sem te falar, e sei que já nem te conheço. Não tão estranhamente assim, hoje des(a)pontou em mim uma memória muito antiga. Acho que foi por estar a ouvir a Corinne Bailey Rae. Ou então foi o cansaço, a mente ainda me trai quando não estou alerta. Era noite quente de verão, mas isso pouco importa. Podia ser um dia chuvoso, já aprendi que o amor não tem relação com o boletim metereológico. Chega alheio a temperaturas. Sempre quente, sempre húmido. Naquela noite de Julho, esperávamos o táxi que me levaria a casa. Enquanto ele não chegava, olhavamos a rua. Tento recordar-me se estavamos em silêncio ou se trocámos palavras que entretanto perdi no tempo. Nada. Não registei esse pormenor. Tu abraçavas-me por trás e, estupidamente, tudo o que vejo de ti é o par de chinelos que trazias. Também sinto o teu cheiro, que depois dormiu comigo, prémio de um primeiro encontro ousado. Veio em mim a ternura desse abraço, senti-o, na verdade. Três anos passados, acreditas? Os teus braços no meu corpo. A moleza de um amor bem feito. E o peso do colar que comprei como amuleto.
Inadvertidamente, percebi nessa recordação como se manipula o amor. Oferece-se-lhe um colar. Só me apaixonei um par de vezes na vida. Nas duas, estreei um colar: o primeiro, perdeu-se na vida. O outro, anda perdido no mundo. Um dia arranjo um que não fuja do meu peito.
4 comentários:
Paloma, este é sem dúvida o texto mais bonito que li nos últimos tempos e revejo-me, de certa forma, nele. Gostei mesmo muito.
Obrigada, nervosinha!=)
Caramba, fiquei com lágrimas nos olhos...Este post é arrebatador!!É tão, mas tão, belo e tu és uma maravilhosa escritora.
Estava para aqui a pensar que através da arte, neste caso da arte das palavras, está aqui algo tão bem eternizado. E o quão bonito isto é. O quão talentosa tu és. E o quão sortudo é quem se vê aqui representado, nesta mestria de palavras.
Espero que tenhas noção que acabaste de escrever um dos posts mais bonitos de sempre!! Adorei, um grande beijinho
:)
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