Gostava de nos ver ao sol, peles morenas, passeando na cidade que deixou de ser minha para ser um pouco nossa. Olho as ruas e só nos vejo envolvidos em frio, embrunhados em nós, amêndoa amarga em uísque, marlboro com chesterfield. Encolhidos, recolhidos. E penso como seríamos com sangrias, sardinhas e calor. Como seríamos de manga curta e dias longos. Que esplanadas escolheríamos para nos beijarmos apaixonadamente e apreciar os belos fins-de-tarde lisboetas. Quem sabe, castelos. Penso em ti e imagino como seríamos se ainda fossemos. Se ainda pudessemos ser sandálias na calçada, mãos suadas, dadas, escolhendo os recantos para um mimo quente, mais quente do que a cidade, mais refrescante do que o vento que nos sopraria o Tejo, o Tejo que olharíamos, tons prata, versando simplesmente sobre os limites do horizonte que não vês, e que me contas, em segredo, não existem. Ando devagar pela cidade, passeio nos nossos museus. Fecho os olhos e sugo das conversas dos turistas o teu jeito de falar. Finjo que cada um deles és tu. Abro os olhos e desiludo. Mas descanso, olhando em direcção da zona onde rio e mar se imiscuem. Faz-me sorrir. Sei que, se pelo menos não houver limites, temos o mesmo horizonte. Ainda que o vejamos por lados opostos do mundo.
1 comentário:
Fogo...adorei cada frase.
"Sei que, se pelo menos não houver limites, temos o mesmo horizonte" é muito, muito boa mesmo. Adorei!! Beijinhos
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