A Costa da Caparica é um desespero. O acesso - odeio pontes -, horas a fio no trânsito, mais umas horas no trânsito, encontrar sítio para deixar o carro... e a lista podia continuar ad eternum, mas vou terminá-la com aquele que é o maior dos desesperos: no Verão, conseguir um lugar para estender a toalha sem ficar entalada entre o senhor de meia idade peludo e com barriga besuntada de óleo e a senhora sua esposa, também de meia idade mas com aspecto de idosa, com as peles penduradas, mal tapadas por um biquini demasiado reduzido.
Ainda assim, eu já fui feliz na Caparica!
Em tempos idos, namorada de surfista, passei muitas tardes estendida naquelas areias, almoçei frequentemente no Verde e Amarelo e vi bonitos fins-de-tarde na praia da Saúde.
Mas a Caparica não foi só amor: foi desamor. Lembra-me amigos que, em ocasiões diferentes, me levaram à Caparica para juntar ao mar o sal das minhas lágrimas. Faziam-me esquecer de pessoas que, hoje, nem me lembro mais quem são... só porque foram tantas!*
E nem foi só amor e desamor: foi amizade. Lembra-me de tardes a torrar ao sol, de estrangeiros a imitarem tubarões, de chapéus de sol (mal) partilhados, de sessões fotográficas sensuais à beira-mar, de batidos de morango podres, belíssimas tostas de frango, e de amigos que ainda hoje me levam propositadamente à praia para me verem de biquini, mas eu nem me importo com isso porque, pelo menos, levam-me à praia.
Mas foi do que isso: foi maternidade. A primeira vez que o Um, com seis meses, sentiu a areia escapar-lhe entre os dedos. E as experiências tresloucadas de pais ainda mais tresloucados: sentar o bebé na praia, correr para tirar uma foto e voltar a correr ainda mais rápido, mesmo a tempo de agarrá-lo antes de tombar na areia - ele ainda não se sabia sentar, mas pelo menos guardo a foto de recordação, um bebé gordinho e com a cabeleira repleta de caracóis. E claro, os longos passeios a empurrar o carrinho que mal cabia na bagageira do Fiat vermelho, uma mala de bebé enorme, pesada, ao ombro, e de uma senhora que, à força, queria partilhar uma banana com o Um, porque «Coitadinho do menino, está a olhar é porque quer, e tire daqui do fundo que eu ainda não lá pus a boca!»
Hoje passei a tarde na Caparica e dei por mim feliz por regressar. Notoriamente mais bonita, encontrei lá a tranquilidade que precisava para terminar o (interminável) romance de Bolaño. Encontrei sol, um almoço tardio, um sorriso inesperado sob um olhar atencioso, e o mar ali ao lado. Tudo isto para me recordar disso mesmo: «Aqui já fui feliz».
Mesmo que seja a um Sábado... é bom trabalhar a dez minutos da praia, não é?
*Nota - Se há coisa que me faz chorar é o amor. Mesmo que não seja, verdadeiramente, amor.
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