Dois pés nuns saltos altos. O som que faziam ao bater no soalho ecoava nas galerias pintadas de branco, deixando-a incapaz de se concentrar. Convidando-a a entrar, vê do seu lado direito uma câmara escura, tão escura que demora algum tempo a habituar-se. Passa a não ver nada, senão um banco. Liso, corrido, de madeira. Sentou-se. Fechou os olhos, nem sabe bem porquê. Afinal, já estavam cegos. Deixou que os sentidos bebessem aquele descanso.
Quando os abriu, os olhos viram imagens soltas num quadrado projectado. Um homem, uma porta, um computador. Uma camisola de flanela, livros, um quarto sem janelas. Ali ficou, observando aquela sucessão idiota de imagens idiotas. Hipnotizada.
Quando os abriu, os olhos viram imagens soltas num quadrado projectado. Um homem, uma porta, um computador. Uma camisola de flanela, livros, um quarto sem janelas. Ali ficou, observando aquela sucessão idiota de imagens idiotas. Hipnotizada.
Até que sentiu alguém. Sentou-se ao lado, a distância muito curta. Ela não pestanejou, não desviou a atenção das imagens. As mãos apoiadas no banco. Liso, corrido, de madeira. Um toque leve. Os seus dedos, nos dela. Um sobressalto que ninguém notaria. Um suster de respiração. Uns dedos, nos dela. Acariciando as suas mãos, com vontade, mas com leveza. Manteve o olhar fixo e sentiu-o sair. Sentiu algo. Finalmente, sentiu algo. E ali permaneceu. Com vontade de sair também, procurar o ser ousado que a acariciava sabe-se lá porquê. Mas não saiu. Ficou. Hipnotizada. Incapaz de lidar com o facto de que sentia algo.
1 comentário:
Continuação de boa inspiração :) Beijinhos
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