2666 foi o único livro que fiz careta de cada vez que o enfiei na mala. O motivo foi, obviamente, as suas 1030 páginas (quem diria que um chileno conseguiria, depois de morto, acentuar a minha deficiência na cervical?). Além das rugas, acumulei também alguns olhares esbugalhados de cada vez que tirava o livro da mala e me punha a ler 2666 num local público. Comentários como «está doida» ou «mais valia ler a bíblia» foram recorrentes. E certeiros, estou em crer.
Foram dois meses e cinco dias, após muitos planos de leitura. Sim. É preciso disciplina para poder dar seguimento aos livros que fui acumulando e que estou desejosa de começar. Quantas páginas por dia tenho de ler para acabar no dia x? Ridículo, eu sei, mas quis Bolaño que, aquela que dizem ser a sua obra prima, fosse, para mim, este desespero.
Pode parecer uma incoerência mas, ignorando a quantidade e focando na qualidade, eu até classificaria o livro de leitura fácil. Os obstáculos surgem quando há páginas inteirinhas de puro aborrecimento que, no meu entendimento, não acrescentam nada de novo à história, personagens que se perdem e, sobretudo, um final incompleto. Neste último ponto, não por culpa de Bolaño, saliento.
Tivesse eu algum poder editorial e respeitaria a decisão do autor: cinco livros separados. Um primeiro, algo repetitivo, mas estimulante para quem acha piada às brincadeiras entre dois homens e duas mulheres. Um segundo agradável. Um terceiro e quarto livros para esquecer e, por fim, um último, perto da genialidade. E assim, ter-me-iam poupado a uma leitura disciplinada, oposta, por definição, de uma leitura prazeirosa. De longe, a minha preferida.
Posto isto, porque é que me apetece comprar O Terceiro Reich? Bem, não custa experimentar Bolaño uma segunda vez. Pelo menos, são só 352 páginas.
1 comentário:
Pois, também achei o livro "esquisito". Gabo a tua persistência, porque ler 2666 a pensar no próximo da tua lista deve ter sido bem difícil... Mas, defeitos à parte, a verdade é que, também eu, acabarei por ler O Terceiro Reich, por isso, alguma coisa o senhor deve ter... :)
Gostei do blogue e gostei da tua crítica, bem humorada. :)
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