Desde cedo, escrever foi a forma que encontrei de dar sentido ao que não entendo. É certo que também escrevo sobre o que acredito, sei, vejo ou sinto, portanto, entendo, mas tenho pouca urgência nisso. Quando estou atordoada, pego na caneta e ponho as palavras como bem entender, como me parecerem melhor arrumadas. Expurgo algum caos em mim.
Hoje arrumo as ideias: escrevo sobre pessoas. Não entendo muitas.
Gosto de amar, gosto de gostar. E não suporto quando essas mesmas pessoas me gritam:
- Vês? Não valia a pena...
Gostares. Amares.
Por definição, desiluidir está longe de ser uma mera perda de ilusão. Calha-me bem. Porque me recuso a achar que a minha percepção sobre um conjunto de acções
rir, falar, gesticular, numa outra escala, expôr ideias, definir valores
é uma mera ilusão. É concreto e, sobretudo, é a minha verdade.
Custa-me deixar de amar, deixar de gostar. Porque me deixa a remoer sobre onde falhou o meu discernimento sobre esse conjunto de acções
ele ria, falava, gesticulava, numa outra escala, expunha as suas ideias, definia os seus valores
e eu gostava
e conduz-me à inevitável verdade de que o seu falhanço, é o meu falhanço. No limbo, o discernimento, a percepção.
Mesmo assim, não consigo não gostar de uma pessoa de um dia para o outro, ainda que seja o que se espera, o que convém. Porque me vem à memória o itálico. E depois fico assim... a lamentar profundamente a complexidade de carácter.
2 comentários:
Não se ama uma pessoa de um dia para o outro assim como não se deixa de amar. No fundo estamos a falar de pessoas.
Bela reflexão.
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