É como o parto. Ouves as mulheres falarem por meias palavras do quanto custa sair-te das entranhas um pedaço da tua carne, mas só sabes realmente de tudo o que implica parir quando o fazes. E entras de imediato para a sociedade secreta: even if they ask, don't really tell.
O pior é que esta espécie de silêncio perdura no tempo. Ouves rumores de que é difícil ter um adolescente, mas nunca saberás o quanto custa até o teu filho ter uma penugem por cima do lábio superior. Aquele, carnudo, que antes estava sempre molhado de baba. E te dava beijinhos como se fosse um passarinho. Ou simplesmente abria a boca e a pousava na tua cara, enchendo-te de tudo e mais alguma coisa. Baba. Com língua e tudo, saboreando-te as bochechas como se fossem uma bela papinha.
Não é que já tenha ido tudo embora. Não. Os beijinhos continuam, mas agora em segredo. As lágrimas de mimo, com a cabeça no ombro, e os braços a rodearem o pescoço, transformaram-se em resmungos e amuos na almofada. Só o «faz de conta» se mantém: «faz de conta» que sou bom aluno, «faz de conta» que ainda sou um menino, se isso me der jeito, «faz de conta» que sou eu o dono do mundo.
Se há coisas boas? Há. Há coisas maravilhosas em ter um menino com doze anos. Sobretudo, tenho um companheiro de risos. Alguém que me entende só de olhar, que me diz que me ama e me pede desculpa - os bebés nunca pedem desculpa, mesmo que te urinem em cima às cinco da manhã. Tenho uma criança que me deixa dormir e não preciso de falar dela de cinco em cinco minutos no círculo social, muito menos sobre a aparência do seu cocó.
Perguntam-me muito o porquê de não haver mais T2 para Um e meio. Acho que é porque agora o T2 é para Um e Um. Já não sou meio: não uso só latas para alimentar a família, a casa anda arrumadinha, não choro por qualquer coisa e tenho um namorado que me agarra com força se me apetece dar com os pés ao mundo e que, estou em crer - não acredito que vou dizer isto - é bem capaz de ser a metade que me faltou este tempo todo.
Por isso, só por isso, os episódios do T2 são cada vez menos frequentes. De resto, o amor por aqui, continua sempre frequente, e cada vez maior. Capaz de não caber em lado nenhum.
E se duvidas houverem do porquê de tanta lamechice, hoje encontrei umas fotos antigas do Um. Tenho saudades do meu bebé: às vezes vejo-o por aí, mas cada vez menos. E pronto: ainda bem que, pelo menos, sou do tempo das fotografias. Para mais tarde recordar.
3 comentários:
texto bonito, amiga! como sempre :)
Tão sincero! Adoro-vos!!
obrigada meus amores! =D
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