quinta-feira, 23 de maio de 2013

Onde fica, afinal, a minha casa?


Estou a olhar para uma poça de água na praia e a lembrar-me da sensação do mar a escorrer-me pela cabeça abaixo, percorrendo-me o metro e meio de corpo que eventualmente nem tinha. Foi há muitos anos, mas aquela cascata fria e o sal na boca nunca me abandonaram. Também nunca partiu o cheiro a iodo, que aqui reencontro. 
Era bom ser criança. Ter tanto, e na verdade, tão pouco, em que pensar. Sentir-me viva, só porque a água me gelava, e os dentes batiam. E outra vez viva quando o sol, uma toalha enrolada no metro e meio de corpo que continuo sem saber se tinha, e um pacote de Nesquick me voltavam a aquecer. 
Ouvi algures, que nesses anos, nos primeiros, nos desenvolvemos a uma velocidade incrível e que, caso assim continuassemos, seríamos o nosso maior inimigo, morrendo depressa demais. É por isso que tudo em nós abranda, segundo a ciência, numa tentativa de, pés juntos, fincados na areia, fazermos birra com a vida para não partimos cedo demais. Como quando pequenos, tentando adiar o regresso a casa, depois de um dia de praia. O sol põe-se. Aqui e lá, na recordação. É  inevitável o regresso a casa. E o que me ocorre é: e se a vida, esta que temos, é apenas umas férias de verão?

1 comentário:

AP disse...

Adorei!! Continuas a escrever maravilhosamente bem