quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O frio e a chuva voltaram mais cedo. Estão aqui para nos lembrar que, sem darmos conta, está a passar por nós um ano. Acendes a lareira, abres um vinho. Mesmo assim, pões-me o cobertor laranja pelos ombros. Sabes agora que sofro de frio crónico. Um frio que, não contente em me abocanhar os ossos, se instalou na alma em tempos, e me faz abraçar-me incessantemente.
Não mais.
Passa no teu abraço.
(É mimo isto que faço).
Para te ver acender a lareira e para te sentir o cuidado enquanto me pões a manta nos ombros. E, um ano volvido, puxas-me para ti, agora sem embaraços, agora sem medos. Cúmplices em corpo e alma. Olhos fechados, um chill-out a soar. Há chuva e o frio, fazendo-nos recordar. Bebericando um tinto, na tua casa inspirada num qualquer romance chileno, enquanto fumas e eu, encostada no teu colo, te digo que tens uma ninhada de gatos no peito. Perguntas:
- Queres que deixe de fumar?
E eu respondo, meia tola de amor:
- Não. Cheiras a homem. Gosto que cheires a homem...
Mesmo que tenhas uma ninhada de gatos no peito.
É bom quando os animais se apoderam das nossas entranhas.
Há quase um ano que tenho borboletas na barriga.