sábado, 2 de outubro de 2010

Comer, orar, amar

Eu queria guardar este facto só para mim. Mas se Javier Bardem deu a cara, foi realizado por Ryan Murphy e produzido por Brad Pitt cresce-me confiança no peito para admiti-lo: fui ver Comer Orar Amar.  
A história aborda tão somente a gasta metáfora da viagem como descoberta pessoal. Aquela que muitos sonham fazer mas que poucos encetam. Tem romantismo, mas escusem-se à presença de parceiros. Assim de repente, é a única forma que vejo de evitarem a náusea de sair de mão dada com alguém, quando o que realmente apetece é desatar a pôr os tarecos à venda e partir para a vossa Burges. Seja ela uma metáfora ou não.
Eu não sou muito aventureira. A história de uma mochila às costas e o mundo pela frente não me agrada... embora a ideia de fazê-lo com uma mala de viagem (daquelas de rodinhas) e boas camas à minha espera  me ponha em pulgas para partir agora mesmo.
Sei-o hoje que são muitos os sonhos que não sobrevivem à adolescência. São mais ainda os valores que por ali morrem. Mas se há uma coisa que não me tem largado desde então é a ideia de que, no dia em que formos capazes de andar pelo mundo só com a nossa bagagem, sem carregar absolutamente nada de ninguém, é o dia em que nos encontramos. Seja isto uma metáfora ou não.
Não tive inveja de Elizabeth Gilbert porque a minha viagem também já começou. Há um ano. Não fui longe. Não conheço a Índia nem Bali. Nunca me deliciei durante quatro meses com iguarias italianas. O mais longe que fui deixaria qualquer aventureiro a rebolar no chão a rir. Mas a verdade é que me tenho descoberto como se palmilhasse quilómetros com estes pézinhos. Três voltas ao Mundo em pouco mais de quatrocentos dias...
E conheci as mesmas pessoas fantásticas, que deixo, sem ressentimentos, sem culpas, quando se torna imperativo partir para outro lugar. A viagem tem de continuar e os que merecem a pena, colam-se em nós; aprendi que amar não tem de ser um acto correspondido. Nem contínuo. E que se pode simplesmente admitir o amor em voz alta, sem vergonhas; descobri que o amor nem sempre paga a renda. Mas, lamentavelmente, só nós o podemos despejar; assumi que a saudade nasce na ausência, alimenta-se dela e é nela que morre; e aprendi que ser como sou dá-me mais vida do que parecer o que sou. Não sou forte. Não sou aventureira. Não sou capaz de fazer tudo sozinha. Magoo-me facilmente. Perdoo com dificuldade. Não amo Deus, mesmo que ele afinal exista e me ame de volta. Aprendi a dizer, com sentido: não faz mal. Porque, de facto, nada disto faz mal. No fim, só eu poderei fazer o balanço de uma vida. E vou ser tendenciosa. Não faz mal. Nada disso faz mal. Eu já me decidi. Vou declarar que foi uma vida fantástica.

4 comentários:

AP disse...

Ainda não vi o filme mas adorei o que escreveste. Muito belo!! Intenso e bastante interessante, com direito ao teu habitual jogo de palavras. Adorei :)

M. disse...

adoro, está lindo (o que escreveste, não o filme que esse só vou ver depois de ler o livro)

Miúda-Mulher disse...

Gostei tanto! :-)
Quero ir ver esse filme nos próximos dias.

Pedro Santos disse...

Well és previligiada, muito poucas pessaos chegam sequer onde tu estás ;)
keep it up