quinta-feira, 19 de maio de 2011

Trabalhos

Passo o dia a queixar-me do excesso de trabalho. Às oito e meia já atravessei a cidade de Lisboa e percorri 35 Km. Hoje são poucos. Passam por mim 25 pessoas. Todas diferentes. Dou-lhes dez minutos do meu tempo. Falam-me de muitas coisas. São 250 minutos sem parar. Não como. Não bebo água. Não vou à casa-de-banho. Saio a tremer. Como uma sopa. Sigo para os próximos 24 Km. Vejo o mar. Apetece-me deitar no areal, desligar o telemóvel e fingir que fugi. Para sempre. Trabalho toda a tarde. Sonho com a folga de segunda-feira. Toca o telemóvel. Atendo o telemóvel. Fico sem folga na segunda-feira. Continuo a queixar-me do excesso de trabalho. Toca o telemóvel. Atendo o telemóvel. É da revista com a qual vou colaborando:
Preciso de ti com urgência. Um trabalho para ontem. Uma capa. Exige trabalho.
E esqueço o excesso de trabalho. Sorrio. Digo que sim. Desligo o telemóvel. Sorrio. Sorrio. E volto a sorrir. Sorrio só mais uma vez. E relembro-me:
Quando se corre por gosto, não se cansa.
Podia ser um rodapé, uma simples caixa. Até um obituário - já fiz uns quantos e descobri que tenho prazer até na morbidez. Quando se corre por paixão, cansa-se ainda menos. Ganha-se energia.
Faço 60 Km. Penso.
Maldito país que não me deixa viver de histórias.

2 comentários:

Lu disse...

Uns sofrem por excesso de trabalho...uns por não ter trabalho nenhum...afinal quando é que isto se equilibra? E quanto às histórias bem que podias pensar escrever um livro...afinal é só o que falta para seres uma mulher completa... já plantaste uma árvore e...já tiveste um filho...beijo

AP disse...

Adorei :)
É impossível controlar o sorriso quando leio que vais escrever, em especial porque sei o quanto amas essa área e porque para mim faz todo o sentido continuares a escrever as tuas histórias. Adorei!!
Muitos beijinhos