quarta-feira, 15 de junho de 2011

De Roma, com amor (IV)

Terça.
Ontem apagamos as luzes e adormeci ao som de um pedinte que tocava, no seu acordeão, músicas italianas. O quarto é barulhento, ou não estivesse ele numa das ruas mais movimentadas de Roma. Talvez por causa desse som, talvez por causa do cansaço extremo do meu corpo - já lá vão uns dias sempre a percorrer a cidade a pé -, perco o comboio para Florença. Dei-me por feliz por não ter comprado o bilhete na véspera e espero que amanhã não aconteça o mesmo, ou chegarei a Portugal com um ligeiro atraso. Bom, para me redimir, está prometido: a próxima viagem a Itália tem de ser para breve e com paragem obrigatória em Florença (e quem sabe se não me volto a meter numas excursões ao coliseu e ao vaticano).
Por causa deste meu lapso matinal, hoje foi um dia tranquilo. A cidade está vista, hoje aproveitei para fotografar na alma coisas que nenhuma Polaroid consegue captar. Podia ter tirado muito mais fotografias, podia. Mas se o fizesse, iria parecer-me um pacto para não mais cá voltar. E isso não pode acontecer!
Tinham-me dito que Roma não prestava, que era suja e que é das cidades mais feias de Itália. Neste último ponto, talvez, não discuto. A beleza de Itália deve ser infinita. Mas eu, só conhecendo Milão, juro com os meus pézinhos juntos que Roma a supera aos pontos. Neste momento está entre as minhas cidades preferidas. Cada curva aqui, é um monumento, uma piazza, uma fonte. Cada refeição, um deleite (só de pensar que quando voltar a Portugal me aguarda algum bitoque, dá-me vontade de chorar, e olhem que eu adoro bitoques!). Cada pessoa, uma descoberta, uma conversa "deitada fora", uma vontade de ir além do servir: o agradar. Ajuda à experiência ter feito isto sozinha. Poder, como hoje, comer gelado ao pequeno-almoço, só porque sim, porque é o que me apetece e ninguém me vai dizer absolutamente nada faz-me bem. É o sabor da independência.
Não quero voltar a Portugal, a não ser pelas saudades que tenho do Um. Estou sem telefone e desde sábado que não oiço a voz do catraio! Sempre que tento ligar, a cabine come-me as moedas. Aqui, nada que seja em máquina funciona: telefones, vending machines e multibancos (txi, que peripécias com aos multibancos!) são para esquecer.
A chuva veio tornar mais melancólica a minha partida. Dois turistas vieram com um mapa perguntar-me direcções. Pensaram que era italiana. É para verem como caminho com à-vontade pela cidade. Melhor ainda, consegui ajudar. Sinto-me romana.
Em jeito de despedida, fui jantar num restaurante mais... requintado, isso. O rapaz destila a lista de sumos mais populares e fica surpreso quando peço um copo de vinho. Eu disse que era para não olhar a medidas, hoje. Que maravilha de refeição. Sinto-me Jesus na última ceia, embora ele estivesse numa mesa de grupo e a minha tenha sido um fantástico lugar recatado à janela.

1 comentário:

AP disse...

Adorei o post :)