quinta-feira, 22 de março de 2012

Do lado de lá

Gostava de nos ver ao sol, peles morenas, passeando na cidade que deixou de ser minha para ser um pouco nossa. Olho as ruas e só nos vejo envolvidos em frio, embrunhados em nós, amêndoa amarga em uísque, marlboro com chesterfield. Encolhidos, recolhidos. E penso como seríamos com sangrias, sardinhas e calor. Como seríamos de manga curta e dias longos. Que esplanadas escolheríamos para nos beijarmos apaixonadamente e apreciar os belos fins-de-tarde lisboetas. Quem sabe, castelos. Penso em ti e imagino como seríamos se ainda fossemos. Se ainda pudessemos ser sandálias na calçada, mãos suadas, dadas, escolhendo os recantos para um mimo quente, mais quente do que a cidade, mais refrescante do que o vento que nos sopraria o Tejo, o Tejo que olharíamos, tons prata, versando simplesmente sobre os limites do horizonte que não vês, e que me contas, em segredo, não existem. Ando devagar pela cidade, passeio nos nossos museus. Fecho os olhos e sugo das conversas dos turistas o teu jeito de falar. Finjo que cada um deles és tu. Abro os olhos e desiludo. Mas descanso, olhando em direcção da zona onde rio e mar se imiscuem. Faz-me sorrir. Sei que, se pelo menos não houver limites, temos o mesmo horizonte. Ainda que o vejamos por lados opostos do mundo.

1 comentário:

AP disse...

Fogo...adorei cada frase.
"Sei que, se pelo menos não houver limites, temos o mesmo horizonte" é muito, muito boa mesmo. Adorei!! Beijinhos