domingo, 13 de fevereiro de 2011

Não fui

Às vezes parece que foste um acidente na minha vida. Daqueles que deixam estragos para sempre. Dos que te marcam, dos que te queimam. Dos que te partem em dois e te impedem de manter em pé. Dos que te fazem acordar a meio da noite, aos gritos, porque estás a reviver tudo: as guinadas, os travões, o embate (os beijos, o conforto, o amor). O choro (o choro).
Não consigo. Não sou capaz de fazê-lo de novo. Fico com suores. Começo a tremer. Sinto-me perder as forças. Vejo que me abrem a porta, garantem-me segurança. O cinto prende-me. Pergunto-lhe:
- Vais devagar?
- Vou devagar.
- Prometes.
- Prometido. Sem auto-estradas.
O estômago revolve-se-me. Ainda nem arrancámos e eu já desisti.

(Eu queria ter feito essa viagem. Seríamos nós, por umas horas. Seríamos bons, por um momento.)