quarta-feira, 10 de março de 2010

... na sala giratória


Saiu. Não se ofuscou com a passagem para a luz. Não, porque não havia espaço para mais nada, senão a revolução que vivia no interior. Passou para a sala seguinte. Uma sala giratória. Três aberturas levavam-na ao centro. Escolheu uma das três. No centro, três ecrãs curvos. Imagens poderosas. Sons misturados. Involuntariamente, começou a rodopiar, levada por um impulso que não sabia explicar, mas que faziam os saltos (ainda trazia os saltos, ou estava, afinal, descalça?) moverem-se em círculo, sobre si mesma. Não queria perder nenhuma das imagens. Girava. Uma floresta, um africano, uma mesa. Rodopiava. Gemidos, conversas e uma música. Girava. E sentiu. Alguém se encaixou. Nela, nas suas costas. Abraçou-a com vontade, mas com leveza. E o cheiro estonteou-a. Cheirou-lhe a desejo. Ao dela. Um beijo, um suspiro, uma floresta novamente. Os braços torneados, morenos, masculinos, e as mãos que não conseguiu ver, porque se voltavam a perder nas suas costas. Assim era a perfeição do abraço. Sons da floresta, um piano, conversas. A respiração junto do seu ouvido. E assim se deixaram estar. Giravam, rodopiavam, giravam. Mas nunca se voltavam.